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domingo, 23 de março de 2014

SOBRE DEUSES E MENDIGOS

"Longe, bem distante do senso comum está a delicadeza e seus polidores.  Mais adiante, beirando o infinito, está o amor cujos reflexos sentimos na terra.  São esses respingos que nos chegam e impulsionam, dando-nos a impressão de que o conhecemos.

Isso é o que geralmente pensamos.  Mas todas as virtudes em maior ou menor grau, estão ao nosso alcance na condição de sementes adormecidas no terreno inculto dos nossos corações.

Afirmamos que estão longe para justificarmos à nossa consciência as cobranças e os pedido que ela nos faz em seus anseios de crescimento e iluminação.

Vemos o bem, o aprovamos, mas não o abraçamos, com a desculpa de que tudo é longe, tudo é difícil, tudo é caro, tudo é inútil.

É assim que coisas como o amor, o perdão, a delicadeza, a caridade, o otimismo, o bom humor e um sem número de virtudes escorrem por nossas mãos para além da coragem.

Não são elas que fogem, Nós as expulsamos porque temos medo de conviver com elas.  Medo das interpretações alheias, de nos fragilizarmos, de romper estruturas, de demolir velhos e inúteis edifícios cujos porões estão abarrotados de inutilidades.  

Se tiverdes fé, disse Jesus, removereis montanhas. No entanto, consideramo-nos pequenos demais, pecadores demais, indignos demais para alçar voo aos céus.

Falamos demais em dores, em problemas, em guerras, em doenças e gastamos horas divulgando o mal.  O cenário do inferno nos parece mais familiar e digno de comentários que o reino do céu.

Viciamo-nos na pobreza, domesticamos a mente em temas vazios, esquecemos a beleza, a generosidade, satisfazemo-nos com migalhas.

Elegemos a mediocridade como mentora de nossas prioridades e nos admiramos quando nos perguntam porque apenas nos suportamos quando deveríamos amar uns aos outros.

A realidade é bem dura.  Sufocamos o amor com nossa agressividade; banimos a gentileza com nossa indiferença.  Somos mendigos espirituais.

Mas ainda existe tempo de reverter a tragédia.  Quando o espírito quer movimenta forças e poderes que julgava inexistentes.  Quando o espírito realmente quer, se agiganta e vence, pois se a mente de cada homem é uma usina de força, seu coração é um vórtice de luz.

Só depende de cada um ser um deus em meio às estrelas do espaço infinito ou um mendigo a estender as mãos súplices para os transeuntes nas favelas infectas do mundo."

Luiz Gonzaga Pinheiro in Aconchego

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